No presente artigo, relatarei brevemente uma experiência de propor e avaliar textos escolares produzidos por alunos da 5ª série do Ensino Fundamental, oriundos de camadas pobres na cidade de Sobral.
Solicitei, na instrução da proposta de redação, por escrito, que o aluno desenvolvesse o seguinte o tema: Descreva como seria sua vida se tivesse dez centímetros de altura.
A partir do tema proposto, presumi que o aluno ativaria seu conhecimento prévio sobre noções básicas de medidas, particularmente a competência de reconhecer o significado e unidades de medida - comprimento, superfície, capacidade e massa. De modo que, para desenvolver o tema, seria preciso: a) O aluno saber o que é centímetro; b) Que dez centímetros é pequeno; c) Que uma pessoa com dez centímetros só é possível no mundo da imaginação e d) que o tema proposto para a redação sugerido tivesse apenas uma condição de ser possível, e não de evidência de fato concreto.
Recebidas as redações e tendo iniciado o processo de correção, registrei, de logo, muitas provas em branco, o que pode ser traduzido por uma dificuldade pontual do aluno de não compreender a proposta de redação. Não pude deixar descartar, também, que é possível que o estímulo que suscita o tema não tenha sido suficientemente compartilhado com o aluno, especialmente os que têm dificuldade de desenvolver um texto criativo.
Constatei, também, no decorrer da leitura dos textos dos alunos da 5ª série muitas autobiografias, o que me faz especular uma fuga do tema, resultante, talvez, de um distanciamento ou fuga entre o estímulo presente no tema da redação e o centro de interesse ou cognitivo do aluno.
Interessante observar que as crianças pequenas participantes da avaliação de redação comparavam-se a animais e objetos pequenos, tais como: mosquito, formiga, borboleta, rato, lápis, micróbios, dedo e bebê na barriga da mãe. Dentro de uma psicanálise do ato de fala, pude levantar a hipótese do “lado negativo do tema” ter sido explorado pelos alunos como sentimento de inferioridade pelo tamanho, medo de rejeição da família e dos colegas, ou de ter certas limitações, como, por exemplo: brincar, comer, beber, estudar, trabalhar e pegar alguma coisa.
No campo psicolingüístico, os textos, em geral, mostram a necessidade de as crianças serem vistas e valorizadas e não manipuladas por alguém. Algumas vezes as crianças mostraram a necessidade de estudar e trabalhar. Outros traços dentro dessa dimensão psicológica das crianças, percebidos por mim, na leitura dos textos, são a fuga da realidade uma vez que muitas crianças desejam ser um animal pequeno e o desejo de morar na floresta para fugir da violência urbana.
O personagem modelo eleito pela maioria das crianças foi o Pequeno Polegar. O inseto mais recorrente nos textos foi à formiga. Agora, pensando em proposição de um trabalho de acompanhamento pedagógico ou mesmo de intervenção psicopedagógica na escrita dos alunos do ensino fundamental, creio que uma personagem como A Formiga Efigência (nome inspirado a partir da leitura de um texto de uma aluna da 5ª série em que se compara a uma formiga) pode ser uma interessante experiência de pensar um personagem-guia de produção de textos na escola.
Do ponto de vista estrutural do texto, pude observar a ausência de uma revisão na produção textos e erros ortográficos cometidos falta de consciência fonológica (correspondência entre letras-fonemas) ou por distração, uma vez que diferentes formas da mesma palavra (caza, casa, por exemplo) eram registradas no desenvolvimento do mesmo texto.
Do que os alunos escreveram e do que li e reli até agora, ainda há muito que pensar, repensar, dizer, escrever e reescrever sobre “como seria sua vida se tivesse dez centímetros de altura”.
DETECTAR PROBLEMAS DE LINGUAGEM
Muitas crianças têm um desenvolvimento mais lento da linguagem. É muito comum que a família, devido ao convívio intenso e quotidiano, se habitue ao tipo de comunicação que a criança utiliza, «ignorando» assim (porque na realidade os filtra) os problemas de aquisição/utilização de linguagem que possam surgir.
Desta forma, é freqüente que seja o educador ou o professor a detectar as dificuldades de linguagem da criança.
Mesmo assim, os pais devem estar preparados para distinguir as dificuldades próprias da faixa etária da criança das aquisições que não tiveram lugar adequadamente e que podem estar a afetar a aprendizagem da linguagem escrita.
Entre as dificuldades mais comuns podem citar-se as que estão ligadas à atenção, à percepção/discriminação, à memória (auditiva, visual), ao raciocínio lógico, à fala (alteração na articulação de algumas sílabas), à linguagem oral (dificuldades em expressar pensamentos, ideias etc.), à leitura escrita, à organização temporal e espacial ou ainda a alterações orgânicas como problemas visuais, auditivos ou motores.
No que toca à linguagem oral vs. leitura e escrita, verifica-se que, no início do processo de alfabetização, a criança que apresenta dificuldades na linguagem oral pode ter problemas em relacionar-se ou em integrar-se no seu grupo.
Se a criança não se consegue fazer entender, é freqüente que seja alvo de troça ou de exclusão por parte do grupo, um fato que poderá refletir-se no seu rendimento escolar.Em alguns casos, se a criança apresentar alteração na fala (trocas, omissões ou distorções) estas poderão refletir-se na sua expressão escrita.
O educador deverá prestar atenção quando, no que toca à linguagem oral e quando comparada com outras da sua faixa etária, a criança:
· Não demonstra vontade de comunicar.
· Não respeita ou não percebe situações de diálogo.
· Se recusa a participar em situações que há necessidade de expressar-se como: rodas de conversa, dramatizações, leituras em voz alta, etc.
· Utiliza uma ou duas palavras em vez de construir frases.
· Se expressa com frases simples, com vocabulário pobre e erros de concordância que não deveriam acontecer na sua idade.
· Constrói frases confusas, com grande número de palavras, para expressar uma idéia.
· Repete as palavras do adulto como eco ou recorre a gestos indicativos com o dedo, o olhar ou expressões faciais.
· Usa demasiadas palavras encurtadas ou onomatopéias (exemplo: "mu-mu" para identificar uma vaca).
· Omite, acrescenta ou altera a pronúncia de alguns sons das letras (exemplo: gato - cato / faca - vaca).
· Apresenta hesitações na fala.
· A sua voz é rouca, nasalada ou com alterações claras na entoação ou no ritmo.
· Respiram sobretudo pela boca.
Os pais deverão prestar atenção quando, no que toca à escrita (não esquecendo que a alfabetização não é um processo simples) e quando comparada com outras da sua faixa etária, a criança:
· Não reconhece as letras.
· Apresenta resistência a leitura, à escrita, ou a ambas.
· Apresenta lentidão ao reproduzir graficamente as letras aprendidas ou o faz (sempre) "em espelho".
· Troca algumas letras (p por b; f por v; g por q; d por t; ch por j; b por d, por exemplo).
· A sua caligrafia é incompreensível ou evidencia uma tensão muscular exagerada que faz com que se queixe de dores na mão, nos braços e/ou nos ombros.
· Quando lê ou escreve, omite, troca, distorce, junta ou separa letras ou palavras.
· Perante situações de leitura/escrita apresenta reações como sono, dor de cabeça, dor de barriga, dispersão, etc.
· Apresenta dificuldades em reproduzir textos já lidos.
Apresenta dificuldades em redigir (organização das idéias, seqüência lógica de ações, etc.).
Disgrafia é uma inabilidade ou atraso no desenvolvimento da Linguagem Escrita, especialmente da escrita cursiva. Escrever com máquina datilográfica ou com o computador pode ser muito mais fácil para o disléxico. Na escrita manual, as letras podem ser mal grafadas, borradas ou incompletas, com tendência à escrita em letra de forma. Os erros ortográficos, inversões de letras, sílabas e números e a falta ou troca de letras e números ficam caracterizados com muita freqüência.
Discalculia - As dificuldades com a Linguagem Matemática são muito variadas em seus diferentes níveis e complexas em sua origem. Podem evidenciar-se já no aprendizado aritmético básico como, mais tarde, na elaboração do pensamento matemático mais avançado. Embora essas dificuldades possam manifestar-se sem nenhuma inabilidade em leitura, há outras que são decorrentes do processamento lógico-matemático da linguagem lida ou ouvida. Também existem dificuldades advindas da imprecisa percepção de tempo e espaço, como na apreensão e no processamento de fatos matemáticos, em sua devida ordem.
Deficiência de Atenção - É a dificuldade de concentrar e de manter concentrada a atenção em objetivo central, para discriminar, compreender e assimilar o foco central de um estímulo. Esse estado de concentração é fundamental para que, através do discernimento e da elaboração do ensino, possa completar-se a fixação do aprendizado. A Deficiência de Atenção pode manifestar-se isoladamente ou associada a uma Linguagem Corporal que caracteriza a Hiperatividade ou, opostamente, a Hipoatividade.
Hiperatividade - Refere-se à atividade psicomotora excessiva, com padrões diferenciais de sintomas: o jovem ou a criança hiperativa com comportamento impulsivo é aquela que fala sem parar e nunca espera por nada; não consegue esperar por sua vez, interrompendo e atropelando tudo e todos. Porque age sem pensar e sem medir conseqüências, está sempre envolvida em pequenos acidentes, com escoriações, hematomas, cortes. Um segundo tipo de hiperatividade tem como característica mais pronunciada, sintomas de dificuldades de foco de atenção. É uma super-estimulação nervosa que leva esse jovem ou essa criança a passar de um estímulo a outro, não conseguindo focar a atenção em um único tópico. Assim, dá a falsa impressão de que é desligada, mas, ao contrário, é por estar ligada em tudo, ao mesmo tempo, que não consegue concentrar-se em um único estímulo, ignorando outros.
Hipoatividade - A Hipoatividade se caracteriza por um nível baixo de atividade psicomotora, com reação lenta a qualquer estímulo. Trata-se daquela criança chamada "boazinha", que parece estar, sempre, no "mundo da lua", "sonhando acordada". Comumente o hipoativo tem memória pobre e comportamento vago, pouca interação social e quase não se envolve com seus colegas.
Dislexia- dificuldade na compreensão da linguagem escrita caracterizada por apresentar omissões de palavras, trocas, acréscimos e lentidão na leitura.
Disortografia – dificuldade na escrita expressiva, acarretando troca de grafemas, problemas de ligação lógica de idéias, problemas de concordância, omissão de palavras, acréscimos indevidos, etc.
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