sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

A FORMIGA EFIGÊNCIA


No presente artigo, relatarei brevemente uma experiência de propor e avaliar textos escolares produzidos por alunos da 5ª série do Ensino Fundamental, oriundos de camadas pobres na cidade de Sobral.
Solicitei, na instrução da proposta de redação, por escrito, que o aluno desenvolvesse o seguinte o tema: Descreva como seria sua vida se tivesse dez centímetros de altura.
A partir do tema proposto, presumi que o aluno ativaria seu conhecimento prévio sobre noções básicas de medidas, particularmente a competência de reconhecer o significado e unidades de medida - comprimento, superfície, capacidade e massa. De modo que, para desenvolver o tema, seria preciso: a) O aluno saber o que é centímetro; b) Que dez centímetros é pequeno; c) Que uma pessoa com dez centímetros só é possível no mundo da imaginação e d) que o tema proposto para a redação sugerido tivesse apenas uma condição de ser possível, e não de evidência de fato concreto.
Recebidas as redações e tendo iniciado o processo de correção, registrei, de logo, muitas provas em branco, o que pode ser traduzido por uma dificuldade pontual do aluno de não compreender a proposta de redação. Não pude deixar descartar, também, que é possível que o estímulo que suscita o tema não tenha sido suficientemente compartilhado com o aluno, especialmente os que têm dificuldade de desenvolver um texto criativo.
Constatei, também, no decorrer da leitura dos textos dos alunos da 5ª série muitas autobiografias, o que me faz especular uma fuga do tema, resultante, talvez, de um distanciamento ou fuga entre o estímulo presente no tema da redação e o centro de interesse ou cognitivo do aluno.
Interessante observar que as crianças pequenas participantes da avaliação de redação comparavam-se a animais e objetos pequenos, tais como: mosquito, formiga, borboleta, rato, lápis, micróbios, dedo e bebê na barriga da mãe. Dentro de uma psicanálise do ato de fala, pude levantar a hipótese do “lado negativo do tema” ter sido explorado pelos alunos como sentimento de inferioridade pelo tamanho, medo de rejeição da família e dos colegas, ou de ter certas limitações, como, por exemplo: brincar, comer, beber, estudar, trabalhar e pegar alguma coisa.
No campo psicolingüístico, os textos, em geral, mostram a necessidade de as crianças serem vistas e valorizadas e não manipuladas por alguém. Algumas vezes as crianças mostraram a necessidade de estudar e trabalhar. Outros traços dentro dessa dimensão psicológica das crianças, percebidos por mim, na leitura dos textos, são a fuga da realidade uma vez que muitas crianças desejam ser um animal pequeno e o desejo de morar na floresta para fugir da violência urbana.
O personagem modelo eleito pela maioria das crianças foi o Pequeno Polegar. O inseto mais recorrente nos textos foi à formiga. Agora, pensando em proposição de um trabalho de acompanhamento pedagógico ou mesmo de intervenção psicopedagógica na escrita dos alunos do ensino fundamental, creio que uma personagem como A Formiga Efigência (nome inspirado a partir da leitura de um texto de uma aluna da 5ª série em que se compara a uma formiga) pode ser uma interessante experiência de pensar um personagem-guia de produção de textos na escola.
Do ponto de vista estrutural do texto, pude observar a ausência de uma revisão na produção textos e erros ortográficos cometidos falta de consciência fonológica (correspondência entre letras-fonemas) ou por distração, uma vez que diferentes formas da mesma palavra (caza, casa, por exemplo) eram registradas no desenvolvimento do mesmo texto.
Do que os alunos escreveram e do que li e reli até agora, ainda há muito que pensar, repensar, dizer, escrever e reescrever sobre “como seria sua vida se tivesse dez centímetros de altura”.

DETECTAR PROBLEMAS DE LINGUAGEM

 Muitas crianças têm um desenvolvimento mais lento da linguagem. É muito comum que a família, devido ao convívio intenso e quotidiano, se habitue ao tipo de comunicação que a criança utiliza, «ignorando» assim (porque na realidade os filtra) os problemas de aquisição/utilização de linguagem que possam surgir.
 Desta forma, é freqüente que seja o educador ou o professor a detectar as dificuldades de linguagem da criança.
 Mesmo assim, os pais devem estar preparados para distinguir as dificuldades próprias da faixa etária da criança das aquisições que não tiveram lugar adequadamente e que podem estar a afetar a aprendizagem da linguagem escrita.
 Entre as dificuldades mais comuns podem citar-se as que estão ligadas à atenção, à percepção/discriminação, à memória (auditiva, visual), ao raciocínio lógico, à fala (alteração na articulação de algumas sílabas), à linguagem oral (dificuldades em expressar pensamentos, ideias etc.), à leitura escrita, à organização temporal e espacial ou ainda a alterações orgânicas como problemas visuais, auditivos ou motores.
 No que toca à linguagem oral vs. leitura e escrita, verifica-se que, no início do processo de alfabetização, a criança que apresenta dificuldades na linguagem oral pode ter problemas em relacionar-se ou em integrar-se no seu grupo.
 Se a criança não se consegue fazer entender, é freqüente que seja alvo de troça ou de exclusão por parte do grupo, um fato que poderá refletir-se no seu rendimento escolar.Em alguns casos, se a criança apresentar alteração na fala (trocas, omissões ou distorções) estas poderão refletir-se na sua expressão escrita.
 O educador deverá prestar atenção quando, no que toca à linguagem oral e quando comparada com outras da sua faixa etária, a criança:
· Não demonstra vontade de comunicar.
· Não respeita ou não percebe situações de diálogo.
· Se recusa a participar em situações que há necessidade de expressar-se como: rodas de conversa, dramatizações, leituras em voz alta, etc.
· Utiliza uma ou duas palavras em vez de construir frases.
· Se expressa com frases simples, com vocabulário pobre e erros de concordância que não deveriam acontecer na sua idade.
· Constrói frases confusas, com grande número de palavras, para expressar uma idéia.
· Repete as palavras do adulto como eco ou recorre a gestos indicativos com o dedo, o olhar ou expressões faciais.
· Usa demasiadas palavras encurtadas ou onomatopéias (exemplo: "mu-mu" para identificar uma vaca).
· Omite, acrescenta ou altera a pronúncia de alguns sons das letras (exemplo: gato - cato / faca - vaca).
· Apresenta hesitações na fala.
· A sua voz é rouca, nasalada ou com alterações claras na entoação ou no ritmo.
· Respiram sobretudo pela boca.
 Os pais deverão prestar atenção quando, no que toca à escrita (não esquecendo que a alfabetização não é um processo simples) e quando comparada com outras da sua faixa etária, a criança:
· Não reconhece as letras.
· Apresenta resistência a leitura, à escrita, ou a ambas.
· Apresenta lentidão ao reproduzir graficamente as letras aprendidas ou o faz (sempre) "em espelho".
· Troca algumas letras (p por b; f por v; g por q; d por t; ch por j; b por d, por exemplo).
· A sua caligrafia é incompreensível ou evidencia uma tensão muscular exagerada que faz com que se queixe de dores na mão, nos braços e/ou nos ombros.
· Quando lê ou escreve, omite, troca, distorce, junta ou separa letras ou palavras.
· Perante situações de leitura/escrita apresenta reações como sono, dor de cabeça, dor de barriga, dispersão, etc.
· Apresenta dificuldades em reproduzir textos já lidos.
Apresenta dificuldades em redigir (organização das idéias, seqüência lógica de ações, etc.).

Disgrafia é uma inabilidade ou atraso no desenvolvimento da Linguagem Escrita, especialmente da escrita cursiva. Escrever com máquina datilográfica ou com o computador pode ser muito mais fácil para o disléxico. Na escrita manual, as letras podem ser mal grafadas, borradas ou incompletas, com tendência à escrita em letra de forma. Os erros ortográficos, inversões de letras, sílabas e números e a falta ou troca de letras e números ficam caracterizados com muita freqüência.

Discalculia - As dificuldades com a Linguagem Matemática são muito variadas em seus diferentes níveis e complexas em sua origem. Podem evidenciar-se já no aprendizado aritmético básico como, mais tarde, na elaboração do pensamento matemático mais avançado. Embora essas dificuldades possam manifestar-se sem nenhuma inabilidade em leitura, há outras que são decorrentes do processamento lógico-matemático da linguagem lida ou ouvida. Também existem dificuldades advindas da imprecisa percepção de tempo e espaço, como na apreensão e no processamento de fatos matemáticos, em sua devida ordem.

Deficiência de Atenção - É a dificuldade de concentrar e de manter concentrada a atenção em objetivo central, para discriminar, compreender e assimilar o foco central de um estímulo. Esse estado de concentração é fundamental para que, através do discernimento e da elaboração do ensino, possa completar-se a fixação do aprendizado. A Deficiência de Atenção pode manifestar-se isoladamente ou associada a uma Linguagem Corporal que caracteriza a Hiperatividade ou, opostamente, a Hipoatividade.

Hiperatividade - Refere-se à atividade psicomotora excessiva, com padrões diferenciais de sintomas: o jovem ou a criança hiperativa com comportamento impulsivo é aquela que fala sem parar e nunca espera por nada; não consegue esperar por sua vez, interrompendo e atropelando tudo e todos. Porque age sem pensar e sem medir conseqüências, está sempre envolvida em pequenos acidentes, com escoriações, hematomas, cortes. Um segundo tipo de hiperatividade tem como característica mais pronunciada, sintomas de dificuldades de foco de atenção. É uma super-estimulação nervosa que leva esse jovem ou essa criança a passar de um estímulo a outro, não conseguindo focar a atenção em um único tópico. Assim, dá a falsa impressão de que é desligada, mas, ao contrário, é por estar ligada em tudo, ao mesmo tempo, que não consegue concentrar-se em um único estímulo, ignorando outros.

Hipoatividade - A Hipoatividade se caracteriza por um nível baixo de atividade psicomotora, com reação lenta a qualquer estímulo. Trata-se daquela criança chamada "boazinha", que parece estar, sempre, no "mundo da lua", "sonhando acordada". Comumente o hipoativo tem memória pobre e comportamento vago, pouca interação social e quase não se envolve com seus colegas.

Dislexia- dificuldade na compreensão da linguagem escrita caracterizada por apresentar omissões de palavras, trocas, acréscimos e lentidão na leitura.

Disortografia – dificuldade na escrita expressiva, acarretando troca de grafemas, problemas de ligação lógica de idéias, problemas de concordância, omissão de palavras, acréscimos indevidos, etc.

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